quarta-feira, 17 de setembro de 2008

MONTANHAS SUBMERSAS I



Com grande pena minha estou sem fazer actividades de montanha há mais tempo do que desejaria... Áparte uma ou outra caminhada serrana sempre agradável mas pouco digna de menção não tenho feito nada de montanhismo nem canyoning...
No entanto, neste ano de 2008, reuniram-se condições que proporcionaram duas idas à montanha algo diferentes das habituais...

A primeira foi no passado mês de Junho, nos picos Ormonde e Gettysburg, cumes da montanha submersa chamada Gorringe.
Entre Portugal Continental e a ilha da Madeira existe uma grande cordilheira submersa, com cerca de 5000 kilometros de comprimento, e no local em que atinge menor profundidade (ou maior altitude, se preferirem!) forma-se aquilo a que se chama um “Banco”, uma espécie de cumeada ou planalto mais alto. No caso do banco do Gorringe, que tem o seu sopé a cerca de 5500 metros de profundidade, os dois picos mais altos, baptizados pico Ormonde e pico Gettysburg, são altissimos, chegando a cerca de 30 metros de profundidade, ou seja, profundidades alcançáveis em mergulho com escafandro autónomo.
Como podem calcular não é um local onde se vá regularmente, tanto pela logistica envolvida, bem como pelas condições meteorológicas, que têm de ser ideais.
Tive a oportunidade de pisar, ou melhor, ascender, porque na realidade não os pisei, ou...digamos... descer... a estes dois cumes muito pouco visitados, no passado mês de Junho no âmbito da Luso-Expedição OLYMPUS 2008 organizada pelo departamento de biologia da Universidade Lusófona.
No meio do Atlântico, por entre um mar imenso de um azul transparente, com visibilidades a perder de vista, é no minimo estranho chegar ao cume... vindo de cima!
Mais estranho ainda é apercebermo-nos que de facto estamos num cume, numa pequena e estreita agulha, com paredes e diedros verticais por cima de um abismo... Apercebermo-nos que se não fosse a àgua e a falta de gravidade dificilmente ali bivaquariam mais do que 2 ou 3 pessoas.
Continuamos a descer e vemos alguns picos, uma estreita linha de gendarmes, até um pico vizinho mais alto...
Apesar das muitas algas, esponjas e gorgónias, dos peixes e das raias, os cumes do Ormonde e do Gettysburg pouco têm a ver com o fundo do mar como habitualmente o vemos na televisão. A paisagem de rocha vertical será mais familiar ao montanhista do que ao mergulhador.

A àgua transparente deixa passar muita luz e num dia de sol e mar calmo, como foi o caso desta vez, a visibilidade é de muitos metros, o que nos permite admirar esta paisagem de rocha, habitada por imensos cardumes de pelágicos de porte considerável, que se aproximam curiosos atraídos pelas bolhas dos mergulhadores.
Aqueles que gostam de ver de perto a fauna dos locais que visitam não ficam desiludidos.

Não sei dizer quantas vezes se terá pisado este cume, aliás, quantas vezes se terá mergulhado neste cume, mas pela distância a Portugal Continental fácilmente se compreenderá que não é uma actividade ao alcance de qualquer um. Afinal nem todos nós somos os felizes possuidores de um barco que navegue 120 milhas náuticas, 223 kilometros, em condições oceânicas. Apesar de haver quem já o tenha feito em embarcações particulares é mais normal as raras incursões ao Gorringe revestirem-se de carácter expedicionário com objectivos cientificos.
Uma qualquer busca na internet por GORRINGE permite encontrar dezenas e dezenas de sites, com a mais variada informação, bem como inúmeros papers cientificos em formato .PDF

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