terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Manaslu, 8156m


Esta é a minha nova imagem de fundo de monitor: subida ao C2 (6200m) do Manaslu em Set 2007.
(clica para ampliar)

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Quebra-ossos: um abutre de montanha de volta a Portugal?









O Quebra-ossos (duas últimas fotos) é o mais raro dos quatro abutres que ocorrem na Península ibérica, dos quais três existem e nidificam em Portugal (Grifo, fotos 3 e 4, Abutre-preto, foto 5, e Britango,foto 6).
Ao contrário dos restantes três, este é um abutre que ocupa exclusivamente o biótopo de montanha. É o último dos abutres a alimentar-se na confusão do festim sobre a carcaça morta (vaca, veado, camurça, cabra, etc. fotos 1 e 2), constituindo os ossos 70% da sua dieta, com a pele e tendões a ocupar outros 25%.
Quando não consegue deglutir os ossos inteiros, eleva-os no ar e solta-os sobre pedras da sua preferência, sempre as mesmas. Na actualidade existe uma população viável de 100 casais reprodutores nos Pirenéus, em ligeiro aumento, depois de um enorme declínio até ao final do século XX.
Existem ainda, na zona mediterrânica, espécimes residuais em Creta, Córsega, Balcãs e Marrocos. Era uma espécie comum em todas as cordilheiras montanhosas espanholas no início do século XX. Nos Alpes extinguiu-se em 1922 e decorre um programa longo de reintrodução da espécie, com excelentes resultados. Em Portugal, os últimos registos correspondem a dois exemplares mortos pelo Rei D. Carlos em 1888, no Guadiana (conservados no Museu de Coimbra).
No entanto, existe registo, em Espanha, de casais de quebra-ossos em duas zonas fronteiriças, ainda entre 1900 e 1940, concretamente na região da actual barragem da Chança (Mértola) e de Barrancos (Pico de Aroche, 712 metros).
A espécie, além de todo o tipo de perseguições e envenenamentos, era ainda muito apreciada em museus e colecções privadas, tendo Hiraldo publicado, em 1979, a informação de que 35 dos 54 ovos de Gypaetus Barbatus presentes em vários museus europeus eram provenientes da Andaluzia.
As campanhas de perseguição intensificaram-se nos anos 60, promovidas e recompensadas pelo governo espanhol, com resultados especialmente nefastos nas serras da Andaluzia.
Em 1958, 4 casais ainda tiveram nidificação confirmada nas serras de Cazorla e de Segura (Jaen) num total de 6 casais existentes. A última nidificação confirmada ocorreu em 1983, enquanto em 1987 foi observado o último indivíduo em liberdade. Os estudos posteriores, tendentes à sua reintrodução, indicavam que o “Parque Natural das serras de Cazorla, Segura e Las Villas” poderia suportar até 15 casais de Gypaetus.
O projecto de reintrodução do Brita-ossos em Cazorla-Segura sofreu um importante desenvolvimento em Novembro de 2004, ao ser integrado no mais amplo projecto Life da Comissão Europeia, sendo então dotado de um orçamento total de 1.650.000 euros.
Este projecto teve ainda um factor muito positivo a seu favor (tal como o de reintrodução em alguns países balcânicos) que foi o de poder colher ensinamentos e toda a experiência acumulada com a reintrodução nos Alpes, entre 1982 e a actualidade (com mais de 150 juvenis libertados, após ter sido dado como extinto em 1922).
O responsável máximo pelo projecto foi, entre 1996 e 2005, o Dr. Alex Llopis, coordenador também do centro de reprodução de Guadalentin. Este centro obteve a primeira reprodução com êxito em 2001, sempre com um mínimo de intervenção humana, sendo os “pollos” criados em exclusivo pelos seus pais. Entre 2001 e 2006, um total de 21 ovos deram origem a 12 eclosões, das quais 8 atingiram crias voadoras (1 a 3 por ano).
Em 2007 o centro possuía 24 indivíduos, entre os quais se encontram já 3 casais com reprodução bem sucedida. Alguns recém-nascidos têm sido trocados com o projecto francês da Asters.
Em 13 de Maio de 2006 ocorreu o grande momento do projecto: a libertação de 3 indivíduos na natureza, em plena serra de Segura. 3 machos, baptizados de Libertad (do centro espanhol de Guadalentin), Tono (de Viena, Áustria) e Faust (do Zoo de Liberec, Rép. Checa).
Foram libertados com cerca de 100 dias de vida, tendo iniciado os primeiros voos com menos de 120 dias de vida. A partir daí, a sua estratégia de alimentação tem seguido a dos Grifos, sendo também vistos nos alimentadores.
Um dado curioso, é que a prospecção de comida levada a cabo pelos jovens Gypaetus vai-se alterando ao longo da vida, deixando a companhia dos Grifos para passar a assumir voos de prospecção solitários, ao longo da linha de degelo, em busca de animais apanhados por avalanches.
Estes juvenis libertados estão equipados transmissores GPS, montados em arneses pélvicos, previamente testados em Grifos, com bons resultados. Tal seguimento por satélite tem permitido confirmar que as aves frequentam maciços fronteiros, não se confinando apenas à serra de Segura.
Após o primeiro ano de vida, o juvenil “Tono” prolongou os seus voos de dispersão até aos Pirenéus e voltou passados 6 meses, enquanto outros exemplares de deslocaram até aos Picos da Europa.
Aliás, a Serra Nevada, Murcia e Albacete têm sido estudadas como localizações alternativas às serras de Segura e Cazorla, pela sua proximidade e pela disponibilidade de territórios e escarpas adequadas à ocupação de novos casais. A monitorização é ainda especialmente importante pela proximidade de importantes corredores migratórios para África, utilizados também por Grifos.
O projecto contempla ainda acções de divulgação junto de escolas, associações de caçadores e habitantes em geral, que levaram ao contacto com mais de 66.000 pessoas ao longo do período em causa (de 1996 até à actualidade).
Por fim, uma referência às causas de morte dos quebrantahuesos em toda a Espanha (Pirenéus e Andaluzia) entre 1979 e 2004: Veneno (32% das mortes), linhas eléctricas ou teleskis (24%) e tiros (18%), entre outras causas.
No entanto, em 1980, os tiros representavam ainda 60% das causa de morte, vindo a descer gradualmente, sendo agora o veneno a principal causa de morte.
De referir um interessante método de combate ao veneno, a analisar em Portugal: Na Andaluzia foi criada em 2006 uma equipa cino-técnica em que um grupo de cães treinados detecta iscos e carcaças envenenadas. Um exemplo a seguir em Portugal, dados os bons resultados alcançados no país vizinho.
Dado o sucesso do programa de reintrodução nos Alpes e o bom começo do programa na Andaluzia, basta que esperemos alguns anos até que o Quebra-ossos volte aos céus do Guadiana e das serras fronteiriças portuguesas.

Texto e fotos de Rogério Morais
Dezembro de 2009