quinta-feira, 26 de maio de 2011

Palestra “Escalada em Portugal nos anos 60; Primeira ascensão da Ursa”.

"Migas", Vitória
Santos Vieira
Santos Vieira e as possiveis linhas de escalada para a "premiére" da Ursa.
Júlio Valente
"Brot"(Pão)-José Pedro Lopes e Júlio Valente

Exposição de material

Diedro do Faraó no Penedo dos Ovos, Qtª da Penha Longa
Sede do CNM-Sul, Lisboa. Da esquerda: José Ilídio Fernandes, Luis Filipe Baptista e Júlio Valente


Pormenor das moedas cravadas no topo da Ursa.

No seguimento do seu plano de Palestras mensais, a Desnível apresentou, no passado dia 25 de Maio, uma sessão especial dedicada ao tema “Escalada em Portugal nos anos 60; Primeira ascensão da Ursa”. Nesta Palestra, a Associação conseguiu reunir um lote de oradores de grande relevo, alguns dos actores que jogaram um papel decisivo na implantação e desenvolvimento da escalada em Portugal. Usaram da palavra:
Carlos Santos Vieira
Júlio Jorge Valente
José Pedro Lopes
Vitória Lopes


A abertura da sessão e apresentação dos restantes oradores esteve a cargo da Vitória, pessoa que bem conheceu a realidade saída desta década e deste grupo de escaladores.
Santos Vieira, traçou uma caracterização geral de um país e de uma geração marcada não só pela ditadura e pelo início da guerra colonial, mas também por toda uma série de dificuldades sentidas por quem se dedicava a estas actividades, tão básicas como a ausência de material, as dificuldades económicas, de deslocação, mas também o ser olhado pela sociedade conservadora como alguém que era algo “anormal”. A necessidade faz o engenho, e Santos Vieira fabricava, de modo semi-clandestino, uma boa parte do seu material metálico, nomeadamente pitons e mosquetões, uma boa parte dos quais foram agora oferecidos à Desnível.


As fotos e actividades relatadas, remontam a 1959, com uma descida documentada da Gruta de Alvide, com uma fotografia da entrada completamente descampada (convém referir que a sessão decorreu na Casa da Gruta, construída sobre a abertura da mesma). A espeleologia e a escalada, andaram de mãos dadas ao longo desta década, quer no seio da SPE (espeleo), quer mais tarde no CNM (norte, centro e sul) e grupo de montanha do CCL. Em 1963, a actividade com a SPE era já intensa, sendo de Setembro de 1964 a 1ª escalada, por parte deste grupo, do Penedo dos Ovos (quinta da Penha Longa), conforme foto em anexo. Em Março de 1965, uma marcha de reconhecimento à Praia da Ursa permitiu realizar as primeiras fotos e esboçar alguns desenhos, já com o objectivo de vir a concretizar a escalada da Ursa. Esta veio a concretizar-se um ano mais tarde, já na Primavera de 1966, depois de duas tentativas falhadas. Esta equipa de 3 (ver foto de interior), designada como cordada “Tensing” pelos próprios, era constituída por Luis Filipe Baptista, (figura impar e dinamizador incontornável deste período, já falecido), Santos Vieira e Júlio Valente. Para esta escalada foi montada uma tirolesa junto à escada dos pescadores, para permitir a retirada com maré cheia (e que veio a ser utilizada na descida), tendo-se iniciado a subida cerca das 5 da manhã. A escalada foi amplamente documentada com fotografia em vários pontos da subida, obtidas por Armando Cardoso, outro histórico que também esteve presente na sessão, onde compareceu ainda Manuel Galvão acompanhado pela sua esposa Rosa, uma das primeiras mulheres a escalar em Portugal. Numa das mais bonitas fotos, vêm-se dois dos escaladores no topo da Ursa, em pé, já depois de terem martelado moedas com as iniciais dos “conquistadores”.

Esta prática, que aqui se iniciou, veio a perdurar ao longo do tempo, e ainda no início dos anos 80 se mantinha, enquanto se usou martelo para escalar a Ursa. Num apontamento curioso, referir que com a derrocada de parte do topo da Ursa, ocorrida a 23 de Abril de 2011, estes blocos com moedas cravadas veio parar ao mar e à base da Ursa, tendo um desses blocos sido recuperado por Paulo Alves, encontrando-se agora em exposição na sede da Desnível, com as moedas oxidadas bem visíveis (ver foto).


Santos Vieira continuou traçando uma resenha sobre o modo como se fundou e formou o CNM (Clube Nacional de Montanhismo) pela mão do Dr. Jorge Santos (falecido em 1964), médico do Porto, que fez a sua formação de Guia Alpino em França (CAF). O CNM veio ainda a criar secções regionais na Covilhã, mais dedicada ao ski, e em Lisboa, cujas instalações em Benfica foram encerradas pela CML, no início dos anos 80. Outros clubes marcaram a década de 60, como a secção de montanha do CCL e o posterior MCJ (Movimento de Criatividade Juvenil). Trazida a sua experiência para Portugal, Jorge Santos veio a formar outros montanheiros como o Guia Lázaro, apaixonado pela Arrábida, que por sua vez lançou na modalidade outros desportistas, entre eles o próprio filho, Ferrer. A este propósito, devemos mencionar o nome de outros montanheiros referidos nesta Palestra, além dos já citados, como sejam Daniel Crespo, Armando Condinho, Maldonado, Galvão, Amândio, José Ilídio, José Manuel Coelho (irmão da Vitória), Alvaro Vital Moreira, entre outros. Foi ainda referido o nome de Américo Abreu, a propósito da 1ª escalada da vizinha Noiva, em 1975, mas esse será já tema para o próxima Palestra, sobre a escalada nos anos 70, a ser preparada e parcialmente engarrafada pelo Paulo Alves.


Terminou Santos Vieira com referência aos dois primeiros encontros de Alta Montanha dos escaladores portugueses, em Junho de 1968, nos Pirenéus Aragoneses, e em Agosto de 1969, nos Picos da Europa.
Júlio Jorge Valente, segundo orador, traçou um perfil mais pormenorizado da sociedade portuguesa, do ponto de vista demográfico, social, cultural, etc. À medida que iam passando fotos históricas do seu acervo, referiu a evolução do movimento de montanha em Portugal, quer enquadrado na obrigatória e omnipresente “Mocidade Portuguesa”, quer no seio de grupos ligados ao campismo dito “desportivo”, que era praticado, por exemplo, na Escola Comercial Veiga Beirão, onde em 1962 se realizou um 1º curso de escalada. Os núcleos da Mocidade evoluíram para as BEC’s, Brigadas Especiais de Campo, que integravam escalada, espeleo e mergulho. Este fio evolutivo veio a culminar (e até a fechar, com chave de ouro) a alargada década de 60, com um curso de escalada em Portugal, ministrado em 1972 pelo Guia suíço Alphonse Darbellay (um de 4 irmãos, Michel, Daniel, Laurent e Alphonse, todos Guias de Montanha), curso esse que terá, de algum modo, dado o pontapé de saída para a década seguinte, já com um nível de maturidade, dificuldade e de concretização que iremos constatar na próxima Palestra.


José Pedro Lopes fez precisamente a ponte entre a geração anterior e a seguinte, tendo sido ele próprio um desses raros elos de ligação. É de sublinhar que se mantém activo ao longo de quase meio século de montanhismo, em conjunto com a Vitória, ambos profundamente envolvidos com a Desnível. Referiu os esforços de alargamento da base de praticantes da escalada, do trabalho realizado junto das escolas, de escoteiros, de grupos de jovens, colónias de férias, etc., e das sementes que daí cresceram até à actualidade. Como curiosidade, refira-se a foto que documenta a construção e utilização de uma torre de escalda na antiga FIL, basicamente montada com desperdícios de madeira, e que deverá ter sido a 1ª estrutura de escalada montada em Portugal, realizada no final desta década.
Fez ainda um pequeno historial da vida e obra desse grande montanheiro que foi Luis Filipe Baptista, inspirador de muitos escaladores, quer desta, quer de gerações futuras, entre os quais se orgulha de pertencer este vosso escriba, iniciado pelo Luis Filipe na Fraga de Treinos da Arrábida.


Vitória Lopes encerrou a sessão com algumas considerações finais e com uma nota de boa disposição e de visão positiva para o futuro, para o qual ela continua a contribuir activamente, não só na ligação à Desnível, mas também como Juíza Árbitro de competições de escalada desportiva, ao nível da FPME.


Santos Vieira fez, como já referimos, a oferta à Desnível de um lote muito interessante de peças, como sejam pitons, mosquetões, um capacete utilizado na escalada de 1966 da Ursa, etc. O embrião para um futuro núcleo museológico da Desnível, peças cuja descrição e fotos o Tiago Pais nos irá proporcionar em breve.
Seguiu-se um agradável e alargado convívio, a que faltou apenas o já obrigatório “apfel strudel”, devidamente animado pelo Moscatel e Branco “anos 70”. A Próxima Palestra Desnível terá como tema a escalada em Portugal nos anos 70, estando Paulo Alves a contactar um interessante conjunto de oradores.


Como nota final, aproveito o copo cheio de Moscatel para deixar também um brinde virtual, dedicado ao também meu grande Mestre de escalada e de montanha: In Memoriam, Luis Filipe Baptista

Rogério Morais, Maio de 2011

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Monte Branco, 1986






















Cume do Monte Branco, Gonçalo Velez e João Garcia, 1986.


segunda-feira, 2 de maio de 2011

Derrocada na Pedra da Ursa a 23 de Abril de 2011





No passado dia 23 de Abril, a praia da Ursa assistiu ao momento geológico do ano e, provavelmente do século: metade da zona somital da pedra da "Ursa" colapsou, correspondendo grosso modo à sua orelha esquerda. A zona à esquerda da antiga escada de corda, devido ao arrastamento de material, foi também varrida. O cone de dejecção de material é impressionante. Ficam duas fotos do "antes" e duas do "depois". Recomenda-se precaução no local.