À chegada a Torrebarrio encontramos a aldeia com alguma neve nas ruas.
Equipamo-nos pusemos as mochilas às costas e lá fomos nós alegremente pois a paisagem estava linda, íamos passar 4 dias na montanha e as previsões meteorológicas eram boas.
À saída de Portugal não tinhamos nenhum objectivo em concreto. O que tinhamos conversado era acampar nos Llanos del Fontán para depois em conformidade das condições da neve/gelo/meteo escolher um dos corredores da face noroeste da Peña para subir.
A neve era muita e havia sítios onde nos enterrávamos até aos joelhos.
Chegar ao local de acampamento, escavar na neve plataformas, montar as tendas, derreter neve para o jantar levou-nos imenso tempo. Deitámo-nos tarde e acabamos também por levantar tarde.
Decidimos fazer o corredor da Agulha por ser mais inclinado, ter menos neve acumulada que os outros corredores e por ser um corredor com um diedro a meio que lhe dá o grau de dificuldade e nos prometia uma escalada mais técnica.
Saímos para o corredor já eram 11.30 (hora portuguesa). Havia uma cordada de 2 espanhóis nesse corredor cuja progressão ao longo do corredor estavamos seguindo com interesse e verificamos que realmente quando chegaram ao diedro ficaram por lá durante imenso tempo. Não havia ser nada. Quando chegássemos lá logo se vía....
Corredor da Agulha
A neve realmente era muita e "blanda". Os espanhóis tinham-nos facilitado imenso a vida ao escavarem os degraus ao longo da subida. À medida que subiamos a inclinação do corredor também ía aumentando. Finalmente chegamos ao diedro. É um local onde realmente o corredor se encontra "bloqueado" por um diedro de rocha coberta de gelo. Não é fácil ,não senhor. O local é muito estreito, só conseguem estar 2 pessoas junto do diedro e bem apertadas, o corredor tem à volta de 70º de inclinação neste local e não há fissuras na rocha para meter um entalador ou friend para montar uma reunião ou um ponto seguro. Metemos 2 parafusos no gelo que também não era muito espesso para uma reunião para nos auto -segurarmos e iniciar a escalada sem poder confiar 100% na reunião. Não foi fácil escalar o diedro. Mas felizmente o gelo não estava mau, e no fim há uma reunião com 2 pitons e uma cordelete onde nos pudemos auto segurar. Depois temos uma travessia para a esquerda um bocado aérea com gelo e rocha até voltar ao corredor e á neve. Psicológicamente esta é a pior parte. Alguns metros à frente no corredor já há uma cordelete abandonada que nos indica um bom local onde podemos dar segurança aos segundos de cordada que vão subir o diedro. A partir daqui é continuar subir, encordados, o corredor que continua com cerca de 70º de inclinação até encontrar um segundo ressalto com gelo. Na rocha antes do gelo do lado esquerdo há um pitom com cordelete e mosquetão onde podemos passar a nossa corda e não fosse o diabo tecelas no gelo colocamos um parafuso. Depois há um grande "calhau" de onde se pode dar segurança a que vem a seguir. Daqui à aresta é um pulinho e pudemos respirar aliviados.
Da escalada do corredor não temos mais fotos. Foi uma escalada realmente exigente e tinhamos de nos concentrar naquilo que estavamos a fazer. Não havia cabeça nem mãos para fotos....
Bem quando chegamos á aresta o sol estava a por-se. Decidimos em vez de ir ao cume da Peña, descer pela via normal, e dar a volta à montanha para regressar às tendas, rapelar o corredor. Rapelamos, já era noite cerrada. Tinhamos 3 cordas. Fizemos 4 largos com rapeis em corda dupla e simples para sermos mais rápidos. Foi necessário abandonar cordeletes para os rapeis. O que é importante é que chegamos à base do corredor sem que nínguem se tivesse magoado. Estavamos cansados, esfomeados, com frio, eram 2.30 da manhã! Mas estavamos felizes!
Chegamos às tendas sem forças para fazer jantar. Comemos qualquer coisa, as meninas aínda fizeram chá e fomos dormir. Claro, o dia a seguir foi para dormir, comer, apanhar sol e pouco mais.
Fomos apenas dar uma voltinha até ao "chozo", que ali existe como refúgio.
A porta está aberta, qualquer pessoa pode lá pernoitar gratuitamente. Apenas se pede para deixar qualquer item que possa der util a quem vier depois: Comida, bebidas, velas, etc.
Para nossa pena as garrafas estavam vazias....
Isto é que é vida :)
O resto do dia foi a brincar na neve:
Foto de Família
Se fomos nós que estivemos no corredor da Peña Ubiña, e se estavamos bem para entrar em contacto com a Guardia Civil.
Fomos a San Emiliano ao Posto da Guardia Civil. Para nossa surpresa eles tinham andado à nossa procura.
Alguém em Torrebarrio tinha visto as luzes dos nossos frontais no corredor e dado a hora adiantada pensaram que estavamos em apuros. Chamaram a guardia civil que subiu até ao refúgio para saber de nós. Não encontraram as nossas tendas e desistiram ou acharam que afinal estava tudo bem e deixaram a nota no nosso carro. Realmente enquanto estavamos a rapelar vimos luzes lá em baixo mas não ligamos.
Com esta já é a segunda vez que a polícia deixa recados no meu carro ;)
Temos que adotar o lema do Mário Batista: "Erguer cedo e cedo subir faz o montanheiro sorrir"
2 comentários:
PArabens Malta! Bela aventura! Mas de facto, em sair cedinho é que está a segurança!
E que sorte tiveram com o tempo! Dias dessas são raros na Penha e pela Estrela teve sempre fechado e a nevar!
Quanto à guarda Civil, espero bem que tenham encontrado as vossas tendas se não é sinal que não viam muito bem!!eheh! Tendas da ortik com aquela cor e com os milhentos reflectores que tem não hão-de ser dificieis de encontrar!!
Bjs e abçs
Parabéns pela actividade, malta! Muita inveja:( Fiquei em Portugal com medo da chuva, e vocês fugiram completamente a ela. Agora mais fico com a Peña atravessada na garganta.
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