quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Saída colectiva Desnível, Alpes 2011











Um grupo de sócios da Desnível (6+1, na verdadeira acepção futriana do termo) deslocou-se aos Alpes italianos, tendo por objectivo principal para realizar um 4.000 acessível, o Gran Paradiso. Este cume foi alcançado por 5 dos 6 participantes iniciais, tendo um dos elementos atingido o col final de neve. Além do prazer do cume em si (prazer longo, diga-se de passagem), esta actividade serviu ainda como follow up para formandos do curso básico de alpinismo da Desnível, colocando assim em prática os conhecimentos já anteriormente abordados e tomando contacto efectivo com a realidade da evolução em glaciar e em terreno variado de alta montanha.
Em jeito de aclimatação foram realizados alguns trek’s prévios, com passagem por vários refúgios e portelas, tendo a actividade principal tido base no Refúgio Vitorio Emmanuel II, do Clube Alpino Italiano.
Meteorologia e temperatura amena, apesar de uma forte trovoada na véspera, com chuva torrencial e queda de granizo em pleno acesso ao refúgio, permitiram uma ascensão descontraída, excepto na aresta rochosa final, sempre muito dificultada pelo cruzamento de dezenas de alpinistas encordados.
Seguiu-se uma 2ª semana de actividade livre nos Dolomitas, a que se juntou de avião, via Milano, mais uma sócia (a Paula Duarte). Nesta semana foram realizadas o Piz Boé e a Marmolada di Roca (que com a sua Punta Penia é o ponto mais elevado dos Dolomitas), além de algumas vias Ferrata e trek’s para todos os gostos. A Marmolada di Roca, ao contrário do que o nome parece indicar, tem mais glaciar do que rocha, com uma bela Rimaye bem aberta e profunda e passos fáceis de rocha (mais uma vez dificultados pelo nº de montanheiros). As sucessivas noites de chuva intensa nos Dolomitas, a que se seguiu um magnífico tempo de sol estável, permitiram realizar uma ampla gama de actividades, da corrida de montanha à escalada em rocha, passando pela fotografia, observação de aves, etc.
Esta viagem, que nos levou a atravessar toda a Península Ibérica, os Pirenéus pelo túnel de Viella, o Sul de França, o col do pequeno São Bernardo e todo o Norte de Itália, de Oeste para Leste, percorreu em automóvel 5.450 km de AE e estradas de montanha. Em termos de exercício físico, permitiu cerca de 65 horas de actividade de montanha a cada um dos participantes, sempre acima de 1.500 metros de altitude. Os custos totais por viatura, em combustível e portagens, rondaram os 800 euros, mas com uma viatura económica é possível baixar este valor.

domingo, 3 de julho de 2011

Raid Ilha Azul - São João no Faial











Na bela ilha do Faial disputou-se no passado fim-de-semana o Campeonato Nacional de Corridas de Aventura 2011 / Raid Ilha Azul onde a Desnível marcou presença com uma equipa no escalão Aventura.
Distribuído por oito etapas e 74 Controlos (CPs) ao longo de dois dias de prova numa distância total de 195 quilómetros (145 dos quais em BTT) e com um desnível positivo acumulado de 5.400 metros, o Raid Ilha Azul contou com a participação de 20 equipas, 8 no escalão de Aventura.

Depois de gorada a formação de uma equipa em Elite fruto da incompatibilidade de calendário da equipa habitual conseguiu-se formar in extremis uma equipa em Aventura juntando ao habitual Tiago Branco o veterano Gilberto Andrade e a estreante Isabel Boavida.
Confirmada a inscrição, enviámos o material mais volumoso no barco disponibilizado pela organização e, sem tempo para grandes planos ou sequer um treino conjunto, partimos rumo ao Faial.

Os objectivos foram definidos já a bordo do avião: divertirmo-nos q.b. e ir ao pódio no escalão Aventura Misto (mal sabíamos nós que não haveria o escalão Aventura Misto nesta prova apesar da maioria das equipas serem mistas).
Com estes objectivos em mente foi fácil definir a estratégia: a Isabel faria a canoagem e baldava as etapas de BTT, o Gilberto ficava com o segmento de Canyoning, o Tiago com o de patins em linha e nas restantes "dividíamos o mal pelas aldeias", que é como quem diz, pelas pernas que mais aguentarem.

Após uma visita aos Capelinhos e tempo (pouco) livre para preparar o material, apareceu a 1ª dificuldade da prova com uma inesperada etapa de "orientação sem mapa" ao tentarmos encontrar a tenda da organização de noite no meio do nevoeiro numa aldeia a 1000m de altitude onde se festejava o S.João apesar da chuva. O jantar demorou e o briefing foi feito já perto das 24h, com todos os participantes a quererem voltar ao pavilhão para descansar antes da prova.

Às 8h45 de Sábado foi dado o tiro de partida da prova com o segmento de natação na marina da Horta seguida de 30 Km de BTT até à zona de transição situada na Caldeira (a principal cratera da ilha, com 2Km de diâmetro a 900m de altitude) onde chegámos cerca das 11h30 já debaixo de forte chuva.
Aí fez-se a transição para a etapa rainha da prova - a etapa pedestre de 20Km circundando a Caldeira e percorrendo a bonita zona mas de difícil orientação das levadas. Não fosse a chuva e o nevoeiro e muitas fotos haveria desta etapa, assim, nem uma! Nesta etapa era necessário transpor uma ribeira por cordas paralelas que deu azo a muitas gargalhadas com algumas equipas a ficarem enroladas nas cordas de maneira inacreditável.
Chegando à zona de transição 4h depois e ainda debaixo de chuva iniciámos a etapa de BTT que nos levaria em 2h30 para a altitude mais suave (200m) do Parque Florestal do Capelo.
Aqui iniciou-se mais uma etapa pedestre (já sem chuva) pelo trilho dos vulcões onde subimos a 2 vulcões com 1 escuro slide/tirolesa na furna ruim pelo meio e terminando no cais dos capelinhos onde uma piscina natural convidava a um mergulho. Terminámos esta etapa a 1 min do fecho, às 20h44.
Nesta fase o relógio parou durante 1h para se fazer o transfer de autocarro de volta ao Capelo onde se iniciou a etapa nocturna de BTT.
A partida para o BTT fazia-se pela hora de chegada da pedestre pelo que fomos os últimos a partir e naturalmente os últimos a chegar (às 0h59, novamente a 1 min do fecho da etapa) à cidade da Horta onde havia a "pasta party" para repôr as energias. Escusado será dizer que a "party" já tinha terminado e todas as outras equipas estavam já a xonar. Nesta etapa tivémos um furo e foi necessário recorrer ao cabo de reboque do Tiago para recuperar o tempo perdido.

Nova neutralização, desta vez até às 6h30 hora a que começou a 1ª etapa de Domingo - uma montanha russa de 45Km feita em BTT - com um segmento de canyoning pelo meio e um "nº de circo" que obrigou o Tiago a pedalar com a 2ª BTT atrelada até ao fim do ribeiro para se continuar a etapa. Pensámos ter feito uma má opção mas esta acabou por ser a nossa melhor etapa. Ficou na memória de quem o fez o CP50, em que numa manada de vacas alinhada em 2 filas para a ordenha era aberta uma passagem pelo pastor para pedalarmos por entre a manada e "picar" o controlo. A interminável subida da praia de Almoxarife também ficou na memória mas por razões diferentes :-)
Com o calor que se fazia sentir a etapa seguinte de canoagem convidava ao passeio mas os 90min que tinhamos para fazer os 11Km de kayak não deixavam margem para relaxar.
Para terminar faltava apenas a etapa pedestre na cidade da Horta, com segmento de patins em linha e trikke no porto e um rapel (que quase ninguém fez) num barranco próximo.

O resto do dia foi passado a embalar o material para o barco, jantar de encerramento com actuação do grupo folclórico de Pedro Miguel e gins tónicos no Peter acompanhados do famoso bolo de chocolate para relaxar os músculos. Houve quem preferisse aventurar-se nos arraias sãojoaninos que ainda se ouviam pelos arrredores.
Na segunda-feira fez-se a recuperação activa subindo, uns relaxados outros desenfreados, ao ponto mais alto de Portugal em ambiente de festa.

Como nota final destaco a opinião unânime de que se tratou de uma das melhores provas de sempre do calendário nacional fruto do excelente trabalho da organização e das entidades envolvidas, das condições naturais extraordinárias que têm as ilhas e do ambiente de camaradagem que se gerou entre as equipas.

"Gin" Geraldo



P.S. As Corridas de Aventura regressam a 11 e 12 de Setembro na Serra da Estrela e a ADA Desnível voltará a ter equipas a competir. Se estiveres interessado em participar contacta a desnível.

domingo, 26 de junho de 2011

Santo António no Posets
























































































































Fomos 3 dias em autonomia e o plano inicial era subir por Eriste, alcançar o Posets, descer para o vale de Estós e subir o Perdiguero, com muitos kgs às costas!

Claro que era ambicioso e a grande dificuldade, para além do peso, veio-se a revelar, era descer a aresta do Posets que dava acesso directo ao glaciar de la Paúl, o nosso objectivo para alcançar o vale de Estós.

No primeiro dia foi a aproximação, tranquila. Ficámos sensivelmente a meio caminho, aos 2.600m, cerca de duas horas depois do Refúgio de Angel Orúz, num magnifico patamar de relva com um riacho ali bem perto.

No dia seguinte foi o ataque ao cume, via canal Fonda. Ataque é uma forma de dizer, ficaria melhor dizer o arrastar até ao cume, tal o lastro que levávamos às costas. Uma vez lá chegados, e consultado o mapa, ficámos literalmente perdidos, pois, seguindo as indicações do mapa, o caminho era sempre em frente, não tinha nada que enganar, mas o que os nossos olhos viam era uma muito, muito estreita aresta! A aresta era tão pequena que demorámos meia hora a tentar perceber o que havia de errado com o mapa. E ainda por cima com aquelas mochilas... nem pensar!

Vimos depois na net que aquela aresta costuma ser feita por pessoal muito experiente e batido naqueles picos, no sentido contrário, sem mochilas, e, em muitos sítios, de gatas!

De maneira que lá tivemos que dar meia volta e tornear o cume pela encosta, apalpando terreno na neve quase virgem, pois o caminho era tudo menos intuitivo e só umas pegadas na neve deixadas por alguém nos deu uma pista, pelo que decidimos segui-las. Mais à frente houve que fazer um destrepe, para conseguirmos aceder ao glaciar de Llardana.

Prosseguindo a marcha, já no glaciar, e seguindo sempre as pegadas (bendito Yeti!), fomos de encontro ao último obsctáculo, ainda a tal aresta. Havia que trepar/escalar uns 10 metros de rocha bastante decomposta para ter acesso ao glaciar de la Paúl, que nos levaria lá para
baixo. Um pouco improvisadamente, e sempre com o coração nas mãos (era impossível confiar naqueles pedregulhos!), lá conseguimos alcançar o topo, revelando-se os crampons bastante úteis na escalada! Depois foi só descer, descer, descer, glaciar abaixo... O desnível foi de cerca de 1.500m!

Entrados por fim no vale, já quase de noite, o objectivo era encontrar um sítio plano e com água perto para pernoitar, o que só conseguimos já passava das 22h00 e debaixo de chuva. O forte luar tornou, entretanto, a caminhada mais fácil e aprazível.

O último dia foi foi já de descompressão, vale abaixo, ao longo do rio. O vale de Estós é um dos vales mais bonitos dos Pirinéus e é um passeio muito agradável, se as botas tiverem mais que dois dias nos pés...



segunda-feira, 6 de junho de 2011

Tesourinhos de lata (mas com história)






Na sequência da Palestra Desnível sobre os anos 60, falou-se na criação do Grupo de Montanha do CCL (Clube de Campismo de Lisboa) e no papel que este desempenhou na consolidação do movimento de montanha na região de Lisboa.

Consegui recuperar o emblema deste grupo de montanha, com um design muito interessante, de cujo autor o Júlio Valente nos irá falar. Recuperei ainda outros 3, com menos interesse (CNM, iniciador e instrutor de alta montanha do CAF / FFM) este último oriundo de um curso de instrutores e de um encontro internacional de alpinistas de Julho de 1984, que ocorreram simultaneamente na ENSA (école nationale du ski et alpinisme, em Chamonix) dos quais voltaremos a falar, e em que participaram, entre outros, o José Pedro Lopes e o Paulo Alves (ver foto). Estas acções concretizaram-se graças a um protocolo CNM / CAF, que perdurou alguns anos.

Por fim, uma interessante e “vistosa” placa, para mim muito bonita, com cerca de 15 cm de altura, que foi entregue aos participantes no 1º Acampamento e 1ª Marcha Regional de Montanha, realizados a 11 e 12 de Outubro no Casal do Janota, uma pequena quinta localizada a Norte da aldeia de Cabanas de Torres, em plena Serra de Montejunto (quem se lembra do moinho do Rodolfo?). Este acampamento foi realizado sob a égide da Comissão de Actividades de Montanha, da FPCC (isso mesmo, campismo), comissão onde passaram, entre outros, o Carlos Teixeira, Perdigão, José Pedro Lopes, e eu próprio, Rogério Morais. A actividade teve um reduzido nº de participantes, dado o seu carácter regional (ficavam todos acampados dentro da quinta) e infelizmente os seus promotores não colocaram o ano na placa. Pergunto eu, quem sabe em que ano foi? Inícios de 80, seguramente, o mais tardar em 1986. Quem tenha registos, chegue-se à frente.

Em breve conto partilhar mais umas relíquias, infelizmente não dos anos 60, porque, como sabem, eu nem era nascido :)

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Palestra “Escalada em Portugal nos anos 60; Primeira ascensão da Ursa”.

"Migas", Vitória
Santos Vieira
Santos Vieira e as possiveis linhas de escalada para a "premiére" da Ursa.
Júlio Valente
"Brot"(Pão)-José Pedro Lopes e Júlio Valente

Exposição de material

Diedro do Faraó no Penedo dos Ovos, Qtª da Penha Longa
Sede do CNM-Sul, Lisboa. Da esquerda: José Ilídio Fernandes, Luis Filipe Baptista e Júlio Valente


Pormenor das moedas cravadas no topo da Ursa.

No seguimento do seu plano de Palestras mensais, a Desnível apresentou, no passado dia 25 de Maio, uma sessão especial dedicada ao tema “Escalada em Portugal nos anos 60; Primeira ascensão da Ursa”. Nesta Palestra, a Associação conseguiu reunir um lote de oradores de grande relevo, alguns dos actores que jogaram um papel decisivo na implantação e desenvolvimento da escalada em Portugal. Usaram da palavra:
Carlos Santos Vieira
Júlio Jorge Valente
José Pedro Lopes
Vitória Lopes


A abertura da sessão e apresentação dos restantes oradores esteve a cargo da Vitória, pessoa que bem conheceu a realidade saída desta década e deste grupo de escaladores.
Santos Vieira, traçou uma caracterização geral de um país e de uma geração marcada não só pela ditadura e pelo início da guerra colonial, mas também por toda uma série de dificuldades sentidas por quem se dedicava a estas actividades, tão básicas como a ausência de material, as dificuldades económicas, de deslocação, mas também o ser olhado pela sociedade conservadora como alguém que era algo “anormal”. A necessidade faz o engenho, e Santos Vieira fabricava, de modo semi-clandestino, uma boa parte do seu material metálico, nomeadamente pitons e mosquetões, uma boa parte dos quais foram agora oferecidos à Desnível.


As fotos e actividades relatadas, remontam a 1959, com uma descida documentada da Gruta de Alvide, com uma fotografia da entrada completamente descampada (convém referir que a sessão decorreu na Casa da Gruta, construída sobre a abertura da mesma). A espeleologia e a escalada, andaram de mãos dadas ao longo desta década, quer no seio da SPE (espeleo), quer mais tarde no CNM (norte, centro e sul) e grupo de montanha do CCL. Em 1963, a actividade com a SPE era já intensa, sendo de Setembro de 1964 a 1ª escalada, por parte deste grupo, do Penedo dos Ovos (quinta da Penha Longa), conforme foto em anexo. Em Março de 1965, uma marcha de reconhecimento à Praia da Ursa permitiu realizar as primeiras fotos e esboçar alguns desenhos, já com o objectivo de vir a concretizar a escalada da Ursa. Esta veio a concretizar-se um ano mais tarde, já na Primavera de 1966, depois de duas tentativas falhadas. Esta equipa de 3 (ver foto de interior), designada como cordada “Tensing” pelos próprios, era constituída por Luis Filipe Baptista, (figura impar e dinamizador incontornável deste período, já falecido), Santos Vieira e Júlio Valente. Para esta escalada foi montada uma tirolesa junto à escada dos pescadores, para permitir a retirada com maré cheia (e que veio a ser utilizada na descida), tendo-se iniciado a subida cerca das 5 da manhã. A escalada foi amplamente documentada com fotografia em vários pontos da subida, obtidas por Armando Cardoso, outro histórico que também esteve presente na sessão, onde compareceu ainda Manuel Galvão acompanhado pela sua esposa Rosa, uma das primeiras mulheres a escalar em Portugal. Numa das mais bonitas fotos, vêm-se dois dos escaladores no topo da Ursa, em pé, já depois de terem martelado moedas com as iniciais dos “conquistadores”.

Esta prática, que aqui se iniciou, veio a perdurar ao longo do tempo, e ainda no início dos anos 80 se mantinha, enquanto se usou martelo para escalar a Ursa. Num apontamento curioso, referir que com a derrocada de parte do topo da Ursa, ocorrida a 23 de Abril de 2011, estes blocos com moedas cravadas veio parar ao mar e à base da Ursa, tendo um desses blocos sido recuperado por Paulo Alves, encontrando-se agora em exposição na sede da Desnível, com as moedas oxidadas bem visíveis (ver foto).


Santos Vieira continuou traçando uma resenha sobre o modo como se fundou e formou o CNM (Clube Nacional de Montanhismo) pela mão do Dr. Jorge Santos (falecido em 1964), médico do Porto, que fez a sua formação de Guia Alpino em França (CAF). O CNM veio ainda a criar secções regionais na Covilhã, mais dedicada ao ski, e em Lisboa, cujas instalações em Benfica foram encerradas pela CML, no início dos anos 80. Outros clubes marcaram a década de 60, como a secção de montanha do CCL e o posterior MCJ (Movimento de Criatividade Juvenil). Trazida a sua experiência para Portugal, Jorge Santos veio a formar outros montanheiros como o Guia Lázaro, apaixonado pela Arrábida, que por sua vez lançou na modalidade outros desportistas, entre eles o próprio filho, Ferrer. A este propósito, devemos mencionar o nome de outros montanheiros referidos nesta Palestra, além dos já citados, como sejam Daniel Crespo, Armando Condinho, Maldonado, Galvão, Amândio, José Ilídio, José Manuel Coelho (irmão da Vitória), Alvaro Vital Moreira, entre outros. Foi ainda referido o nome de Américo Abreu, a propósito da 1ª escalada da vizinha Noiva, em 1975, mas esse será já tema para o próxima Palestra, sobre a escalada nos anos 70, a ser preparada e parcialmente engarrafada pelo Paulo Alves.


Terminou Santos Vieira com referência aos dois primeiros encontros de Alta Montanha dos escaladores portugueses, em Junho de 1968, nos Pirenéus Aragoneses, e em Agosto de 1969, nos Picos da Europa.
Júlio Jorge Valente, segundo orador, traçou um perfil mais pormenorizado da sociedade portuguesa, do ponto de vista demográfico, social, cultural, etc. À medida que iam passando fotos históricas do seu acervo, referiu a evolução do movimento de montanha em Portugal, quer enquadrado na obrigatória e omnipresente “Mocidade Portuguesa”, quer no seio de grupos ligados ao campismo dito “desportivo”, que era praticado, por exemplo, na Escola Comercial Veiga Beirão, onde em 1962 se realizou um 1º curso de escalada. Os núcleos da Mocidade evoluíram para as BEC’s, Brigadas Especiais de Campo, que integravam escalada, espeleo e mergulho. Este fio evolutivo veio a culminar (e até a fechar, com chave de ouro) a alargada década de 60, com um curso de escalada em Portugal, ministrado em 1972 pelo Guia suíço Alphonse Darbellay (um de 4 irmãos, Michel, Daniel, Laurent e Alphonse, todos Guias de Montanha), curso esse que terá, de algum modo, dado o pontapé de saída para a década seguinte, já com um nível de maturidade, dificuldade e de concretização que iremos constatar na próxima Palestra.


José Pedro Lopes fez precisamente a ponte entre a geração anterior e a seguinte, tendo sido ele próprio um desses raros elos de ligação. É de sublinhar que se mantém activo ao longo de quase meio século de montanhismo, em conjunto com a Vitória, ambos profundamente envolvidos com a Desnível. Referiu os esforços de alargamento da base de praticantes da escalada, do trabalho realizado junto das escolas, de escoteiros, de grupos de jovens, colónias de férias, etc., e das sementes que daí cresceram até à actualidade. Como curiosidade, refira-se a foto que documenta a construção e utilização de uma torre de escalda na antiga FIL, basicamente montada com desperdícios de madeira, e que deverá ter sido a 1ª estrutura de escalada montada em Portugal, realizada no final desta década.
Fez ainda um pequeno historial da vida e obra desse grande montanheiro que foi Luis Filipe Baptista, inspirador de muitos escaladores, quer desta, quer de gerações futuras, entre os quais se orgulha de pertencer este vosso escriba, iniciado pelo Luis Filipe na Fraga de Treinos da Arrábida.


Vitória Lopes encerrou a sessão com algumas considerações finais e com uma nota de boa disposição e de visão positiva para o futuro, para o qual ela continua a contribuir activamente, não só na ligação à Desnível, mas também como Juíza Árbitro de competições de escalada desportiva, ao nível da FPME.


Santos Vieira fez, como já referimos, a oferta à Desnível de um lote muito interessante de peças, como sejam pitons, mosquetões, um capacete utilizado na escalada de 1966 da Ursa, etc. O embrião para um futuro núcleo museológico da Desnível, peças cuja descrição e fotos o Tiago Pais nos irá proporcionar em breve.
Seguiu-se um agradável e alargado convívio, a que faltou apenas o já obrigatório “apfel strudel”, devidamente animado pelo Moscatel e Branco “anos 70”. A Próxima Palestra Desnível terá como tema a escalada em Portugal nos anos 70, estando Paulo Alves a contactar um interessante conjunto de oradores.


Como nota final, aproveito o copo cheio de Moscatel para deixar também um brinde virtual, dedicado ao também meu grande Mestre de escalada e de montanha: In Memoriam, Luis Filipe Baptista

Rogério Morais, Maio de 2011